Como Fazer

Como utilizar os Recursos Estilísticos ou Figuras de estilo da língua portuguesa?

Sabia que existe na língua portuguesa mais de 100 recursos estilísticos ou figuras de estilo? Veja aqui alguns dos mais utilizados.

As Figuras de Estilo ou Recursos Estilísticos são geralmente agrupados segundo a sua função no texto:

Recursos Fonéticos

Aliteração

Repetição intencional de sons e fonemas semelhantes, especialmente as consoantes das sílabas tónicas.

Ex:

Brandas as brisas brincam nas flâmulas…” (Fernando Pessoa)

“O rato roeu a rolha do rei da Rússia”

 

Assonância

Repetição intencional da vogal tónica e ou de vocábulos com as mesmas consoantes e com vogais diferentes.

Ex: 

Repetição de vogais : “Pássaro da Lua; que queres cantar; nessa terra tua; sem flor e sem mar?” (Cecília Meireles)

Repetição de consoantes com vogais diferentes: “ É a moda da menina muda; da menina trombuda; que muda de modos e dá medo” (Cecília Meireles)

Rima

Repetição de sons em locais determinados ao longo do texto, a Rima é também uma forma de Assonância. A rima pode ser colocada no interior ou no final dos versos podendo ainda ser alternada, cruzada ou interpolada (ver tipo de rimas) ou emparelhada dependendo da localização do verso dentro da estrofe.

Ex: 

Tudo quanto há de vil, quanto há de belo,

Tudo era nosso irmão! – E assim sonhando,

Pelas estradas da Umbria foi forjando

Da cadeia do amor o maior elo!

(Florbela Espanca, Charneca em Flor)

 

Onomatopeia

– Imitação de uma voz, som, ruído ou animal como por exemplo as palavras “Atchim”(espirro) ou “Buá” (choro).

Ex:

“E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano.” (Machado de Assis)

“Crac, zigue-zague, pumba”

 

Recursos Sintáxicos

Assíndeto

Exclusão dos elementos que ligam as frases ou orações como é o exemplo comum da conjunção “e”.

Ex: 

“Vim, vi, venci.” (Júlio César)

“Grita o mar, brama o fogo, silva a fera,

Chora Adão, geme o pranto, brada o rogo”

(Poetas do Período Barroco, apres. de Maria Lucília Gonçalves Pires)

Elipse

– Omissão de uma frase ou uma ou mais palavras que estão subentendidas no contexto.

Ex:

“A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos” (Carlos Drummond de Andrade)

“As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto.”

 

Polissíndeto

É o contrario do assíndeto.  O polissíndeto caracteriza-se pela repetição dos elementos que ligas as frases ou orações.

Ex:

Ora, há dez anos, neste chão de lava,

E argila e areia e aluviões dispersas,

Entre espécies botânicas diversas,

Forte, a nossa família radiava!

(Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde)

Anáfora

Repetição sucessiva de uma ou mais palavras no início das frases ou versos.

Ex:

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

(Manoel Bandeira)

“Vistes que com grandíssima ousadia, vistes aquela insana fantasia, vistes e ainda vemos cada dia.”

Epífora ou Epistrofe

 Repetição sucessiva de uma ou mais palavras no final das frases ou versos.

Ex:

“Ninguém sabe o que preciso, nem eu sei o que preciso”

“Homem!

Vive por Deus!

Sofre por Deus!

Morre por Deus!”

(Guerra Junqueiro)

 

Epanadiplose

Repetição de uma palavra ou expressão no início e fim da frase,  oração ou verso.

Ex:

“Apagaste a candeia, não apagaste! (…) E fechaste o postigo, fechaste!” (José Régio, Encruzilhadas de Deus)

“Foste às compras, não foste?”

 

Epizeuxe ou Reduplicação

Repetição seguida de uma palavra ou expressão na mesma frase ou verso.

Ex:

“Falam, falam, e nunca dizem coisa nenhuma.”

“Dizem, foge, foge, Lusitano.” (Camões)

 

Paralelismo

Repetição sucessiva da mesma estrutura de uma frase ainda que o seu conteúdo difira.

Ex:

“Foi ritmo dos meu versos de paixão, foi graça no meu peito de descrente.” (Florbela Espanca, Charneca em Flor)

“Tristes novas traz o pagem, Que triste o rosto trazia; Fez-se um silêncio profundo Enquanto que ele as dizia, E a alva flor da laranjeira
Ainda por terra jazia.”

 

Enumeração

–  Exposição de pelo menos dois elementos do mesmo valor na frase.

Ex:

“O naturalismo; esses livros poderosos e vivazes, tirados a milhares de edições; essas rudes análises, apoderando-se da Igreja, da Realeza, da Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas (…)”
(Eça de Queirós, Os Maias)

Gradação

Exposição de uma sequencia de palavras ou frases segundo uma ordem lógica crescente ou decrescente.

Ex:

“Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião, uns cingidos de luz, outros ensanguentados (…)” (Machado de Assis)

“Por uma omissão perde-se uma inspiração; por uma inspiração perde-se um auxílio; por um auxílio, uma contrição.”

Pleonasmo

Reforço de uma ideia que já está expressa através de uma palavra ou expressão com o mesmo sentido.

Ex: 

“Eu canto um canto matinal” (Guilherme de Almeida)

Sorriu para Holanda um sorriso ainda marcado de pavor.” (Viana Moog)

 

Anacoluto

– Desvio da estrutura ou sentido da frase. O tipo mais comum de anacoluto é aquele em que o sujeito inicial é abandonado a meio ficando sem nenhuma acção na frase.

Ex: 

“O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem Braga)

“A minha roupa, levo-a sempre àquela lavandaria.”

 

Hipérbato ou inversão

Alteração da ordem mais comum das palavras numa frase. Esta pode também ser feita através do intercalar de outros sintagmas na frase.

Ex:

“Dá, contra a hora em que, errada,
Novos infiéis vençam,
A bênção como espada,
A espada como bênção!”
(Fernando Pessoa, Mensagem, “Os castelos”, D, Afonso Henriques)

 

Quiasmo

–  Estrutura cruzada ou intercalada entre duas expressões ou grupos de palavras.

Ex:

“Deixa aos tímidos, deixa aos sonhadores

A esperança vã, seus vãos fulgores…”

(Antero de Quental, Sonetos)

 

Recursos Semânticos

 

Comparação

–  Estabelecer uma semelhança utilizando palavras e expressões comparativas (como; tal como; assim como).

Ex:

“A noite descia como um cortinado.” (Carlos Queirós, Desaparecido)

“É que teu riso penetra n’alma

Como a harmonia de uma orquestra santa.”

(Castro Alves)

 

Metáfora

Tal como a comparação estabelece uma relação entre dois elementos porém não utiliza as expressões ou palavras comparativas.

Ex:

“Fios de Sol escorriam de uma Azinheira perto da estrada.” (Vergílio Ferreira, Aparição)

“Amor é fogo que arde sem se ver. ” (Camões)

 

Imagem

–  Trecho de texto que descreve ou evoca vividamente aspectos sensoriais. É frequente a imagem conter outros recursos de estilo como comparações e metáforas

Ex:

“Os teus olhos são dois lagos encantados onde o céu se mira como num espelho!” (Carlos Queirós, Desaparecido)

“Para os vales, poedrosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço, que eram como um musgo macio onde apetecia rolar.”

 

Alegoria

Conjunto de metáforas e ou comparações que formam uma imagem ou conjunto de ideias com um sentido ou contexto final mais extenso e determinado.

Ex:

“Os dias da nossa idade, ou seja curta ou comprida, são como as marés, que ora enchem, ora vazam: enchem nos rios da vida, vazam no mar da morte.“ (António das Chagas, Cartas Espirituais)

 

Personificação ou Prosopopeia

Atribui características humanas como emoções ou atitudes , a objectos, situações ou animais.

Ex: 

“O mar, farto do vento Sul que o esguedelha e irrita, espoja-se raivoso.” (José Loureiro Botas, Frente ao Mar)

A Bomba atômica é triste, Coisa mais triste não há Quando cai, cai sem vontade.” (Vinícius de Morais)

Animismo

O animismo atribui vida ou movimento a objectos inanimados. Ao contrario da personificação ele não lhes confere características próprias de seres humanos.

Ex:

“E assim nas calhas de roda,
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”
(Fernando Pessoa, Autopsicografia)

 

Perífrase

Utilização de muitas palavras para exprimir uma ideia que poderia ser expressa em poucas ou apenas uma.

Ex:

“Nos meses de águas vivas”  – (No inverno)

“O país do futebol acredita em seus filhos.” – (o Brasil)

Hipérbole

Exagero de uma ideia através de uma frase ou expressão como forma de lhe dar ênfase.

Ex:

“Esse livro fez correr rios de tinta.”

“Já te disso isso um milhão de vezes!”

 

Eufemismo

Frase ou expressão que tenta de alguma forma descrever uma realidade ou ideia violenta por palavras mais suaves.

Ex:

“Exalou o seu último suspiro.”

“Bateu as botas.”

(Morreu)

 

Ironia

– Exprimir uma ideia dizendo exactamente o seu contrario utilizando sarcasmo ou sátira.

Ex:

“A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar crianças” (Monteiro Lobato)

“Saíste-me um belo patife.”

 

Litote

– Afirmar algo fazendo para isso a negação do seu contrario.

Ex:

“Estes não são maus conselhos”.

“Gouveia não é muito esperto”

 

Antítese

– Expor e relacionar duas ideias opostas através de expressões ou palavras contrarias.

Ex:

“O Esforço é grande e o homem pequeno.” (Fernando Pessoa, Mensagem)

“Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem”. (Monte Castelo, Renato Russo)

Paradoxo

– Utilizar palavras ou expressões opostas ou contraditorias como parte da mesma ideia.

Ex:

:“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer”.
(Camões)

 

Metonímia

– Substituir uma palavra por outra que mantém uma qualquer ligação contextual com a mesma como por exemplo substituir a obra pelo nome do autor; o conteúdo pelo contentor, a causa pelo efeito etc..

Ex:

“Ler Guimarães Rosa é um projeto desafiador”

“Bebeu só dois copos”

 

Sinédoque

– A Sinédoque é uma forma de metonímia porém as relação entre a palavra escrita e aquela que esta substitui é de subordinação. Na sinédoque evoca-se a parte para significar o todo ou o todo em vez da parte.

Ex:

“Nunca tive um teto para me abrigar”. (casa)

As armas e os barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana (Portugal) (Camões, Os Lusíadas)

 

Antonomásia

– Consiste em substituir o nome próprio de alguém por uma característica que lhe pertence como profissão, nacionalidade etc..

Ex:

“O rei do pop”

“O engenheiro da palavra”

Sinestesia

– Misturar diversas percepções para exprimir uma ideia englobando assim os diferentes sentidos (tacto; olfacto; visão; audição, e paladar).

Ex:

“(…) água de que se exala um hálito verde envolvido nas ondas.” (Raul Brandão, Os Pescadores)

“Cheira a mel e sabe a vento”

 

Hipálage

– Atribuir a um substantivo um adjectivo, característica ou qualidade que pelo contexto se subentende que pertence a outro.

Ex:

“(…) precisava de vexar aquela tipa, que, de perna cruzada, baforava um fumo feliz.” (Vergílio Ferreira, Aparição)

“…uma tímida fila de janelinhas.” (Eça de Queirós, Os Maias)

 

Zeugma

– Omissão de uma expressão ou termo já mencionado antes na mesma frase e que se aplica a um mesmo verbo ou adjectivo tornando o texto mais agradável e menos repetitivo.

Ex:

“Maria comprou um lápis; António, um livro”

“Quem me compra este formigueiro? E este sapo, que é jardineiro?” (Leilão de jardim – Cecília Meireles)